sábado, outubro 02, 2004

Desconstru�ões

Martha Medeiros

Quando a gente conhece uma pessoa, constru�mos uma imagem dela. Esta imagem tem a ver com o que ela � de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma. � pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos. Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em n�s, desfazer-se deste amor, mais tarde, não ser� tão penoso. Restar� a saudade, talvez uma pequena m�goa, mas nada que resista por muito tempo. No final, sobreviverão as boas lembran�as. Mas se esta pessoa "inventou" um personagem e você caiu na arapuca, a�, somado à dor da separa�ão, vir� um processo mais lento e sofrido: a de desconstru�ão daquela pessoa que você achou que era real.

Desconstruindo Fl�via, desconstruindo Gilson, desconstruindo Marcelo. Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por algu�m autêntico. Ok, � natural que, numa aproxima�ão, a gente "venda" mais nossas qualidades que defeitos. Ningu�m vai iniciar uma hist�ria dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, pregui�oso e cleptoman�aco. Nada disso, � a hora de fazer charme. Mas isso � no come�o. Uma vez o romance engatado, a� as defesas são postas de lado e a gente mostra quem realmente �, nossas gracinhas e nossas imperfei�ões. Isso se formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam id�ias e atitudes, at� que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a m�scara e o outro fica ali, atônito.

Quem se apaixonou por um fals�rio, tem que desconstru�-lo para se desapaixonar. � um sufoco. Exige que você reconhe�a que foi seduzido por uma fantasia, que você � capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de amar � mais forte do que sua ast�cia. Significa encarar que algu�m por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representa�ão - e olha, talvez at� não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conhe�a a si mesma, por isso ela se inventa.

A gente resiste muito a aceitar que algu�m que amamos não �, e nem nunca foi, especial. Que sorte quando a gente sabe com quem est� lidando: mesmo que venha a desam�-lo um dia, tudo o que foi constru�do se manter� de p�.

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