sábado, junho 26, 2004

Não Quero Ser o �ltimo a Comer-Te

(carlos drummond de andrade)

Não quero ser o �ltimo a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora � tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde
em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde
a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,
para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.




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