quarta-feira, junho 09, 2004




MIMOSA BOCA ERRANTE
Carlos Drummond de Andrade

Mimosa boca errante
à superf�cie at� achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não ser� comido mas flu�do
at� se lhe esgotar o sumo c�lido
e ele deixar-te, ou o deixares, fl�cido
mas rorejando a baba de del�cias
que fruto e boca se permitem, d�diva

Boca mimosa e s�bia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo r�gido
mas varada de gozo ao confinar-se
no limitado espa�o que ofereces
o seu volume e jato apaixonados,
como pode torna-te, assim aberta,
recurvo c�u infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa
que devagar vais desfolhando o l�quido
espuma de prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o pr�prio fruto, e o fruto a boca
oh chega, chega, chega de beber-me
de matar-me, e, na morte, de viver-me

J� sei a eternidade; � puro orgasmo




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