quarta-feira, junho 28, 2023

Volta Meg: CINEMA - Filmes imperdíveis

Volta Meg: CINEMA - Filmes imperdíveis:

OS BANSHEES DE INISHERIN 2022 1h 54m

Pádraic e Colm são melhores amigos de longa data e vivem numa ilha remota na costa oeste da Irlanda. Num dia que parecia ser como qualquer outro, Colm decide colocar um ponto final da amizade. E as severas consequências vêm.

Crítica
Pensemos nas pessoas como se elas fossem castelos. Geralmente não conseguimos enxergar as fundações até boa parte da estrutura externa ser comprometida. Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell) provavelmente nunca ponderou a respeito do que o mantinha relativamente feliz, em meio à vivência entediante na fictícia ilha irlandesa de Inisherin. Será que alguma vez esse sujeito considerou sobre a real importância da amizade de Colm (Brendan Gleeson) para ele suportar a rotina nesse espaço estagnado? Além disso, o quão Pádraic torce em segredo para que as novidades do mundo, incluindo as guerras, não alterem seu cotidiano semelhante a um rio de correntezas previsíveis? Em Os Banshees de Inisherin uma crise repentina sugere essas reflexões que, por sua vez, descambam em conflitos. Colm diz que não deseja se relacionar com Pádraic. Este, por sua vez, experimenta estágios que começam na perplexidade, passam pela obsessão e chegam ao ódio decorrente da frustração. Aparentemente, o cineasta Martin McDonagh (que também assina o roteiro) fará algo no estilo Bartleby, personagem do Bartleby: O Escrivão, livro de Herman Melville, um burocrata que se recusa a fazer certas tarefas e com isso deixa um rastro enorme de desconforto (até por não justificar a decisão). No entanto, McDonagh recua diante da possibilidade de manter a dúvida, logo colocando na boca dos personagens porquês e senões.

Martin McDonagh desenha uma atmosfera lúgubre para fazer de Os Banshees de Inisherin uma balada triste sobre as relações chacoalhadas pelo medo da morte (ou da mudança). Os personagens transitam por um espaço rural repleto de animais, sem benesses da modernidade. As roupas são tão rústicas quanto as casas e a harmonia resulta de uma resignação coletiva. Tudo funciona diariamente do mesmo jeito. A menor alteração de rota causa alvoroço. É como se essa sociedade intuísse que sua sobrevivência depende da manutenção da inércia. O dono do boteco fica perplexo com a chegada de Pádraic sem Colm. Logo depois, outro vizinho demonstra o estranhamento (utilizando exatamente as mesmas palavras para externar seu espanto). Ao longe, a Guerra Civil da Irlanda anuncia um mundo diferente, a modernidade em guerra, a realidade em que os conflitos são abrangentes. Porém, guardadas as devidas proporções, seriam eles tão mais violentos do que um pai agredindo um filho? O filme não se abre à compreensão profunda do ambiente, tratando-o como pano de fundo dos eventos gerados pelo rompimento de uma amizade. É uma pena que as engrenagens tradicionais desse vilarejo não ganhem o devido destaque (e estudo) como responsáveis pela angústia insinuada pelos ventos dos novos e sinistros tempos. Ao horror do novo, o realizador prefere observar a angústia do desprevenido.
(...)

Fonte e crítica de Marcelo Müller completa aqui
https://www.papodecinema.com.br/filmes/os-banshees-de-inisherin/


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