Cai uma flor no palco. O cantor se curva, apanha-a, olha para a platéia e leva a flor aos lábios. É o delírio. As meninas aplaudem, gritam, os rapazes assobiam. Uma jovem de 14 anos chora, enrolando nervosamente nos dedos um lenço branco amarrotado. O cantor diz duas frases cheias de gíria, curva-se até a altura dos joelhos, estica o braço e anuncia: "O meu amigo, Erasmo Carlos". Estava no ar mais um programa "Jovem Guarda", do líder da juventude iê-iê-iê nacional Roberto Carlos. Falando da angústia e das alegrias do jovem de classe média na sociedade de massas, o novo ídolo colocou em xeque os velhos valores da MPB, que se voltava para o regional, o sofrimento e a pobreza das gentes do interior. Segundo Augusto de Campos, "como excelentes 'tradutores' que são de um estilo internacional de música popular, Roberto e Eramos Carlos souberam deglutí-lo e contribuir com algo mais: parecem ter logrado conciliar o mass appeal com o uso funcional e moderno da voz. Chegaram, assim, nesse momento, a ser os veiculadores da 'informação nova' em matéria de música popular, apanhando a BN (Bossa Nova) desprevenida, numa fase de aparente ecletismo". (...)
(Fonte: Nosso Século - Abril Cultural - 1980)
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