PANORAMA ALÉM
Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia.
Não sinto onde é que estou, nem se estou. Não sei de nada.
Nem de ódio, nem amor. Tédio? Melancolia.
-Existência parada. Existência acabada.
Nem se pode saber do que outrora existia.
A cegueira no olhar. Toda a noite calada
no ouvido. Presa a voz. Gesto vão. Boca fria.
A alma, um deserto branco: -o luar triste na geada...
Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo.
Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo!
Ninguém.... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui.
Tudo opaco... E sem luz... E sem treva... O ar absorto...
Tudo em paz... Tudo só... Tudo irreal... Tudo morto...
Por que foi que eu morri? Quando foi que eu morri?
domingo, julho 09, 2023
sexta-feira, julho 07, 2023
Volta Meg: Filmes imperdíveis
Elvis - 2022 2h40m
O coronel Tom Parker foi o enigmático e controverso empresário de Elvis Presley, um dos maiores nomes da história da música. Ao longo de mais de 20 anos, eles tiveram uma relação complexa que ajudou a levar o artista ao estrelato.
Um foi o rei dos excessos. O outro se tornou conhecido pelo apreço aos exageros. Um casamento entre ambos, portanto, era apenas questão de tempo. O resultado, a cinebiografia Elvis, se revela um petardo direcionado aos sentidos do espectador, que termina a exaustiva jornada de acompanhá-la do início ao fim tomado mais pelo atordoamento oriundo de uma reiterativa e assumidamente visual viagem lisérgica do que pela exaltação da vida e da obra de um artista único em seu campo de atuação, mas que ainda assim se confirma, apesar do extenuante escrutínio ao qual lhe é direcionado, mais um mistério do que uma revelação. O Elvis Presley levado às telas por Baz Luhrmann é produto de uma obsessão estilística do realizador e não fruto de um olhar atento sobre a trajetória e as motivações que fizeram do homenageado um dos maiores ícones culturais do século XX. É fato ser digno da pompa e circunstância aqui almejada, tão certo quanto a ineficácia dessa abordagem em dar conta de tudo a que se propõe.
A partir de uma montagem mais frenética e enervante do que a vista em Bohemian Rhapsody (2018), mas ainda assim mais comportado e atento a um desenrolar cronológico dos acontecimentos do que a narrativa empreendida em Rocketman (2019) – apenas para citar duas produções recentes que partiram de intenções similares às aqui identificadas – Elvis coloca em evidência uma inevitável dicotomia, por vezes quase esquizofrênica, ao posicionar no centro da ação não um, mas dois protagonistas: Elvis Presley, o rei do rock’n’roll, e seu agente, um empresário que se apresentava como coronel Tom Parker. Um é o nome que todos reconhecem, outro é o estranho que a vida inteira atuou nas sombras. Mas que não haja confusão: havia aqui uma relação de co-dependência. Porém, os intérpretes escolhidos para tais personagens são o desconhecido Austin Butler e o vencedor de dois Oscars – e estrela de diversos campeões de bilheteria – Tom Hanks. Se este dispensa apresentações, por mais que se mostre em cena quase irreconhecível, sob uma forte maquiagem, além de ter adotado trejeitos e entonações próprios ao tipo que constrói, o rapaz possui uma longa carreira de pequenas (e, muitas vezes, quase irrelevantes) participações em séries para a televisão, só mais recentemente tendo aparecido, ainda que discretamente, em títulos de maior destaque, como Os Mortos Não Morrem (2019) e Era uma vez em... Hollywood (2019). Cada um a seu modo representa os extremos a partir dos quais o diretor irá exercer seu discurso.
(...)
Crítica completa aqui:
https://www.papodecinema.com.br/filmes/elvis/
terça-feira, julho 04, 2023
Filmes imperdíveis
A Cor Púrpura - 1985 2h34m Direção de Steven Spielberg
Celie é uma menina negra no começo do século XX, que sofre com um pai violento que a assedia. Levada para as mãos de outro homem quase tão ruim quanto, ela passa os anos observando e aceitando calada os abusos a que é submetida, enquanto espera um dia poder reencontrar a irmã querida de quem foi separada.
Apresentado nos cinemas norte-americanos pela primeira vez há mais de 30 anos, A Cor Púrpura, visto hoje, parece não ter envelhecido muito mais que 30 dias. A versão fílmica de Steven Spielberg para a aclamada obra de Alice Walker pode ser um dos maiores perdedores na história do Oscar, com 11 indicações e nenhum prêmio conquistado, mas trata-se de um delicado e cativante filme, vencedor em tantos outros aspectos.
Originalmente concebido como um blockbuster, o que justifica Spielberg na cadeira de direção, A Cor Púrpura teve uma produção cercada de controvérsias desde o início das filmagens, em aspectos cinematográficos, literários, ideológicos e raciais. A escolha do cineasta, em particular – um homem branco de classe média – frustrou em antecipação tantos futuros espectadores, que questionavam o destino das páginas de Walker nas mãos de um realizador até então apenas reconhecido por seus filmes com extraterrestres ou protagonizados por certo arqueólogo aventureiro.
Enquanto o livro retratava as extremas dificuldades de uma mulher crescendo pobre, feia e negra no Sul dos Estados Unidos, o filme desvia levemente da autenticidade e do poder feminista do material de origem para se dedicar à triunfante busca de sua protagonista, Celie Johnson (Whoopi Goldberg), por felicidade e respeito próprio. Spielberg e o roteirista Menno Meyjes se dedicam principalmente a contrapor com delicadeza as sombrias vivências de Celie durante 40 anos de abusos praticados por seu pai e por tantos outros ao seu redor.
Extremamente belo em níveis de produção, direção de arte e fotografia, o que mais salta aos olhos em A Cor Púrpura, no entanto, é seu elenco. Liderado pela então novata Whoopi Goldberg, que como Miss Celie rouba a maioria das sequências do longa-metragem para si, o filme ainda conta com performances inesquecíveis de Margaret Avery no complexo papel de Shug Avery e Oprah Winfrey como Sofia, todas as três reconhecidas com indicações ao Oscar por suas atuações. O destaque maior fica mesmo por conta de Goldberg, que com a difícil missão de conquistar a simpatia de espectadores para uma mulher que é proibida de falar, sonhar e interagir com outras pessoas, entrega uma composição contida, porém repleta de nuances profundas e marcantes.
Spielberg tinha uma difícil tarefa na condução de A Cor Púrpura e muitas expectativas para suprir. Ainda que desvie dos conteúdos mais complexos e escuros que a trama lhe permite, o diretor compensa sua narrativa com momentos de ternura e repletos de emoção, sem exagerar no melodrama. Tente não se comover com a sequência em que Shug entoa numa voz rasgada (créditos para Táta Vega) e embalada por lindos acordes a canção Miss Celie’s Blues. Pode não ser o maior trabalho do diretor ou aquele pelo qual é mais lembrado, mas trata-se de uma pequena e agridoce obra, que parece singular numa filmografia tão desequilibrada.
Fonte:
https://www.papodecinema.com.br/artistas/steven-spielberg/biografia/
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